Aprendendo na família a receita que mistura tradição e inovação
Autora: Jacqueline Resch
Sócia Diretora RESCH RECURSOS HUMANOS
Há alguns anos comecei a estudar os impactos das mudanças no mundo, advindas da globalização e da revolução tecnológica, na forma de viver, na forma de se relacionar e na forma das empresas se organizarem. As mudanças foram enormes, disruptivas, nos transformaram em desamparados e carentes de nortes que nos orientavam, ainda que muitas vezes também nos restringissem e limitassem.
O acrônimo VUCA virou palavra corrente no contexto corporativo em referência à volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade marcantes no mundo de agora. O mundo contemporâneo abandonou a ideia de uma verdade absoluta. Várias ideias, pensamentos, explicações e interpretações coexistem.
Sim, o novo pode produzir tensão – que, se não resolvida adequadamente, pode levar ao conflito, ao confronto e à paralização, impedindo a pessoa, o grupo ou a organização de se movimentar e se adequar à nova realidade. Mas também pode ser libertador e criar novas possibilidades. O que será que nos faz ir a uma ou outra direção?
A recentíssima e emocionante leitura do premiado romance Arroz de Palma, de Francisco Azevedo, me convidou a refletir se, na verdade, não nos exercitamos nesse dilema – tradição/ inovação – já em nossos contextos familiares. E se este não é o primeiro aprendizado para viver a diversidade como riqueza.
Arroz de Palma narra cem anos da história de um clã, suas várias gerações, dramas, conflitos, alegrias, mostrando as mudanças na forma de viver, as diversas personalidades e as diferentes escolhas realizadas por membros e gerações da família.
Mas o fio condutor do romance, o presente que Maria Romana e José Custódio (casal que dá origem ao clã) recebem de Palma – 12 kg de arroz recolhidos no adro da igreja e carregados do simbolismo da união e da esperança, é o que sustenta e amalgama a família durante um século. Tradição e inovação coexistem e é o amor e o desejo de estar junto que possibilita que a diversidade seja acolhida.
Corre-se o risco de que as empresas familiares reproduzam, na gestão de suas organizações, os conflitos inerentes a qualquer relação familiar e que em seus processos sucessórios se estabeleça uma tensão entre tradição e inovação. Que sabedoria será necessário desenvolver para ficar com o que há de melhor em um e outro – reconhecer e permanecer com o que sustenta, une e faz crescer, mas também ser capaz de incorporar o novo que o mundo requer a todo instante?
Por isso, entre as muitas competências apontadas como essenciais para o futuro, penso que a adaptabilidade é a grande competência para estes novos tempos. Não falo da adaptabilidade como submissão, mas da plasticidade de se abrir para novas ideias, novas perspectivas e novas possibilidades. Isso em nada significa abrir mão do que nos constitui ou é pilar em nossas famílias ou organizações.
E aprendendo com Antônio, personagem que narra a história,
“Família é prato difícil de preparar … Mas, Família é prato que emociona … temperos exóticos se misturados com delicadeza, tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa”.